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Esportes da Croácia | Croatia Sacra Paulista

Esportes

Como pode uma nação tão pequenina, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, desenvolver tanto talento em tantas áreas, sobretudo no esporte, atalho pelo qual ela se tornou tão conhecida desde os primeiros dias de sua “nova independência”?

Já em 1992 o time de basquete da Croácia surpreendeu o mundo chegando às finais dos jogos Olímpicos de Barcelona contra os poderosos Estados Unidos – Dream Team. Ficou com a prata, mas incomodou.

Logo depois, em acréscimo ao sofrimento causado pela guerra, o povo croata teve que lidar com a perda do ídolo Dražen Petrović em 1993, um dos maiores jogadores do basquete croata de todos os tempos. Ele faleceu em um trágico acidente de carro, dor que alguns croatas até hoje arriscam comparar com a dor que os brasileiros sentiram ao perder, quase na mesma época, o ídolo Airton Senna.

Como esporte de maior popularidade do planeta, é pelo futebol que a Croácia começaria a abrir caminho para que o quadriculado vermelho e branco passasse a ser conhecido por todos, despertando simpatias pelo mundo. Atrás do futebol croata, diversos esportes coletivos e individuais foram mostrando ao mundo que o tal pequeno país merecia respeito e atenção por sua competitividade esportiva.

No futebol, países de escolas tradicionais já começavam a ver o potencial da Croácia, como a Itália, que perdeu por 2x1 em 1994, nas eliminatórias da Eurocopa. A Alemanha, na Euro de 1996, apenas venceu a Croácia depois de muito trabalho, a contar com a ajuda de um jogador croata expulso. Neste momento dos anos 90 é que a Croácia começa a se promover usando os esportistas como seus maiores embaixadores. Slaven Bilić, zagueiro da Croácia à época, tornou célebres as palavras: “Sabíamos que éramos a primeira geração a jogar pela nova Croácia. Sabíamos que tínhamos uma guerra sangrenta por trás de nós. Tuđman nos disse que éramos como embaixadores da Croácia”. E que ótimos embaixadores!

E é assim que os croatas, com amor por sua terra, sempre se comportam como embaixadores. E é assim que os esportistas se comportam, com toda a visibilidade que lhes é dada, como embaixadores do quadriculado. É assim que o mundo ouviu por mais vezes o nome deste país quando a Croácia, em 1996, conquistou seu primeiro ouro olímpico coletivo com o handebol, esporte aliás muito popular e que traria ainda muitas alegrias ao povo croata, sendo campeã mundial em 2003 e ouro novamente nas Olimpíadas de 2004, em Athenas. Em 2011, a comunidade croata de São Paulo no Brasil teve a felicidade de receber a seleção croata de handebol feminino para a disputa do campeonato mundial, no qual teve a sua melhor posição da história com o sétimo lugar.

Bom, mas e aquele timão de futebol da Euro de 96? Ele explodiria ao mundo em 1998, na Copa da França. Boban, Suker e cia, levariam a Croácia à semifinal da Copa depois de um retumbante 3x0 em cima da Alemanha. E na semifinal...ah Thuram...Thuram, que nunca fazia gol, fez logo dois naquele jogo. E um observador atento se lamentaria muito ao perceber que a Croácia jogou melhor. E na disputa de terceiro lugar, logo em sua primeira Copa do Mundo, uma medalha! Em cima dos tradicionais holandeses... Para “quadricular” mais ainda o negócio: Suker, o artilheiro da Copa! Parece que ali as porteiras foram abertas, e não havia mais volta para o esporte croata. O mundo era o palco.

E não apenas nos esportes coletivos. Janica Kostelić conquistou diversas medalhas de ouro em campeonatos mundiais no esqui alpino. Goran Ivanisevic conquistou Wimbledon numa final emocionante...e ao falar de tênis e mais especificamente Copa Davis: a Croácia é bicampeã!

Nas Olimpíadas de 2012 a Croácia comemorou o ouro do seu time de polo aquático, outro esporte tradicional, talvez aproveitando suas fortes raízes no handebol. Um time que foi longe, tão longe quanto os discos arremessados pela Sandra Perković, também medalhista de ouro em Londres e que, não satisfeita, repetiu o ouro no Rio de Janeiro em 2016. Como falar da Sandra sem mencionar a Blanka Vlašić, sua companheira no atletismo, uma mulher de 1,93m que saltou alto o suficiente para conseguir ser a melhor do mundo em vários campeonatos da categoria.

Alegrias vinham mesmo de esportes de menor popularidade, o que demonstrava o quanto o país é eclético e abençoado na distribuição de seus talentos. O ouro já reluziu no peito de atletas do levantamento de peso, tiro esportivo, lançamento de dardos e ainda, para um país que tem mais de 1000 ilhas e 1700km de costa marítima, não é de se surpreender pelos ouros também na vela e no remo. Além disso, conta com expressivos resultados dignos de medalhas, não tão douradas é verdade, na natação, no taekwondo e na ginástica.

Brasil X Croácia. Abertura da Copa do Mundo de 2016, São Paulo

Enquanto isso, no futebol, a Croácia seguia momentos de altos e baixos: Vencia Itália na copa de 2002, a Alemanha na Euro de 2008, teve a honra de abrir a copa do mundo de 2014 contra o Brasil em São Paulo, mas amargou uma eliminação ainda na primeira fase. Venceu a poderosa Espanha em plena Euro de 2016, mas não avançava tanto. Será que a Croácia poderia novamente encantar o mundo como em 1998? Uma sequência de ótimos jogos contra grandes seleções, mas sem atingir a classificação para fases finais, foram como decepções a inflamar um sentimento de "quando passar de fase, iremos longe". Um sentimento que explodiria. E explodiu!

E veio o ano mágico de 2018 e a Copa da Rússia. A Croácia aplicou um inquestionável 3x0 na Argentina na primeira fase. Com muito esforço passou pelas oitavas contra Dinamarca, pelos donos da casa nas quartas e na semifinal, veio a Inglaterra. Depois de duas prorrogações, agora viria mais uma. Os jogadores croatas esgotados fisicamente, como que conformados com a aproximação dos pênaltis (de novo!), não contavam com Perišić, tomado pelo espirito de Blanka Vlašić, saltando mais alto que todos para ganhar uma bola que parecia perdida, sobrando para Mandžukić virar o jogo.

Naquele momento, milhões de croatas pelo mundo talvez estivessem a gritar como nunca antes na vida. Os jogadores croatas se amontoavam perto da linha de fundo, um fotografo ganharia até um beijo de felicidade do zagueiro Vida, como desculpas por ter envolvido o profissional da imprensa no “esmagamento comemorativo”. Aquelas cenas entrariam para a história do esporte croata, momentos tais que o dinheiro não compra, como diz a música de Mladen Grdović entoada pelos jogadores nas sucessivas comemorações durante a copa do mundo “Nije u Soldima sve”, numa tradução livre “O dinheiro não é tudo”. A Croácia numa final da Copa do Mundo, lugar no qual desejavam estar tantas seleções de mais tradição. E foi contra a França.

É verdade que a Croácia perdeu e é difícil que uma final destas ocorra novamente... mas o fato é que foi um orgulho tremendo, para todo croata, ver o quadriculado invadindo bilhões de lares naquele ano de 2018, ano que ainda nos daria Luka Modrić (foto 8) como o melhor jogador de futebol do planeta. A equipe foi recebida na praça principal de Zagreb, com uma aglomeração como nunca antes vista na história do “novo” e milenar país – jogadores recebidos como verdadeiros heróis. Como verdadeiros embaixadores que levaram a bandeira croata para onde nunca havia sido levada antes. Embaixadores que levaram a nação pequenina e seu simpático quadriculado vermelho a todos os cantos do mundo.